2015, ano em que o Maranhão deu o primeiro passo para uma grande mudança 
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por Ribamar Correa 
2015 entrará para a História do Maranhão como um marco. Foi o ano em 
que na prática o poder político mudou de mãos no estado, num processo 
democrático, sem traumas nem armações, pois a mudança fora determinada 
nas urnas em 2014. O comando do Poder Executivo foi entregue ao 
governador Flávio Dino (PCdoB), que liderou a virada e, com as rédeas 
sob controle, fez nos primeiros 365 dias do seu mandato um governo 
diferente, com viés reformista e inovador, mandando para o arquivo, ao 
que parece definitivamente, uma forma de poder longeva e que, depois de 
muitos altos e baixos, chegou naturalmente à exaustão. Coube ao 
advogado, professor, ex-juiz federal e ex-deputado federal, liderando 
uma nova geração de políticos, fazer essa transição, que até agora se 
deu com surpreendente equilíbrio e sem atropelos. O ano que termina 
alimentou a convicção de que, apesar da crise econômico-política que 
estremece o Brasil e ameaça as instituições democráticas, com a 
presidente da República sob risco de impeachment, o Maranhão viveu a 
plenitude do estado democrático de direito.
Não há como ler 2015 no Maranhão de maneira diferente. O governador 
Flávio Dino foi a grande personagem dessa história, independente da 
maneira como os mais de sete milhões de maranhenses o veem, aí 
incluídos, aliados, simpatizantes, céticos, arredios e adversários. E 
certamente consciente do seu papel e do seu desafio, ocupou todos os 
espaços na estrutura de gestão e na seara política. No primeiro ano de 
trabalho fez exatamente o que prometera na campanha e nos anúncios de 
início de mandato. Todas as ações implantadas e em curso no seu governo 
estavam previstas no seu programa, o que demonstra que não se deixou 
seduzir pela tentação de adotar medidas que pudessem redundar em 
equívocos.
À frente de uma equipe formada por jovens, o governador Flávio Dino 
chamou para si a responsabilidade por tudo o que aconteceu no seu 
primeiro ano de governo. E o fez centralizando o comando administrativo 
no seu gabinete, onde começa a trabalhar às 7 e segue por 14, 15 horas, 
em jornadas quase obsessivas – segundo o relato de um assessor -, ao 
longo das quais  despacha com secretários, indaga sobre tudo, cobra 
resultados, questiona providências, cumpre agenda formal, concede 
audiências, avalia problemas de última hora e costuma decidir como o 
governo deve agir. Em outra frente, interagiu com os chefes do Poder 
Legislativo, deputado Humberto Coutinho (PDT), e do Poder Judiciário, a 
então desembargadora Cleonice Freire, discutindo com eles pendências com
 franqueza pouco usada nesse tabuleiro. No campo político, o governador 
tem atuado para fortalecer sua base partidária, dedicando atenção 
especial ao robustecimento do seu partido, o PCdoB, estimulando também o
 reforço dos seus aliados, a exemplo do PDT, de olho nos próximos 
embates eleitorais.
E no cenário político nacional se manteve antenado com os movimentos 
de governo e oposição, regulou sempre o foco no Congresso Nacional e não
 descuidou de acompanhar todas as decisões importantes do Supremo 
Tribunal Federal, por exemplo. No sinuoso campo da política nacional, 
coordenou ações no estado e na região como líder das forças aliadas da 
presidente Dilma Rousseff (PT), e por esses movimentos consolidou-se 
como um dos líderes da sua geração no país.
O desempenho administrativo e a ação política do governador do 
Maranhão minaram as forças dos seus opositores, concentrados no que 
restou do Grupo Sarney, onde algumas vozes lhe fazem oposição cerrada, 
mas até aqui sem consequências, pois não há notícia de que Flávio Dino 
tenha alterado um grau da sua rota ou uma vírgula do seu discurso por 
causa de uma ação oposicionista. Foi acusado de perseguição política, 
mas não mudou a determinação de vasculhar as entranhas da máquina 
pública em busca de supostos malfeitos no recente passado administrativo
 do Estado. Atua convencido de que é assim que tem de ser numa 
democracia, ainda que correndo o risco de trombar com uma frustração lá 
na frente. Já percebeu que, apesar de todos os seus defeitos, a máquina 
pública não era o antro que ele imaginava, e que o governo que o 
antecedeu deixou-lhe os meios para iniciar sua gestão sem ter de 
recorrer a medidas extremas. Até aqui mandou investigar os sinais de 
desmando, sendo o mais nítido deles a suspeita de que o maior programa 
do governo anterior, o arrojado e controvertido Saúde é Vida, pode ter 
sido sangrado em R$ 1 bilhão.
Por outro lado, não se soube até aqui de desvios no seu governo que 
pudesse comprometer o seu discurso ou fragilizar os seus atos formais 
contra a corrupção. Duas ou três supostas escorregadelas de membros do 
governo foram punidas com mão pesada. Um exemplo: Rosângela Curado 
(PDT), responsável pela área de saúde do governo em Imperatriz e líder 
nas pesquisas para a Prefeitura de lá, foi demitida sumariamente diante 
da suspeita de que teria desviado recursos. A decisão desagradou 
seriamente o PDT, mas o governador se manteve inflexível.
O fato é que um ano depois da posse, o governador Flávio Dino é 
aprovado por 65% da população, o equivalente à votação que o elegeu em 
turno único em 2014, provavelmente a melhor entre seus colegas 
governadores. Mas quer dizer também que existem os insatisfeitos, que 
não o veem com bons olhos, que não concordam com sua maneira de governar
 e que torcem para que fracasse. Eles estão por aí e seus líderes e 
inspiradores têm identidade, não se escondem e têm endereço político 
certo. E mais do que isso, se preparam para juntar todas as suas forças 
para enfrentá-lo nas 217 guerras municipais que serão travadas no 
segundo semestre do segundo ano do seu governo.
Muita coisa aconteceu no Maranhão em 2015. Mas nada se comparou à 
mudança no comando administrativo e político do estado, porque não 
ocorreu apenas uma mera e rotineira sucessão. O que proporcionou a 
guinada radical atende pelo nome de alternância, que no caso maranhense 
pode até ser politicamente apelidada de revolução, tendo o governador 
Flávio Dino o privilégio de comandá-la. De preferência dando o passo 
largo na caminhada para transformá-lo de estado pobre, desigual e 
injusto em um braço rico, mais igual e mais justo da Federação. Que 2016
 seja o tempo do segundo passo nessa direção.
