domingo, 23 de novembro de 2025

Maranhão de atitude e resistência 


Por  Carlos Brandão

Há histórias que não cabem apenas em livros. Pulsam no ritmo das ruas; ecoam nas batidas dos tambores; dançam nos corpos que se entrelaçam e sobrevivem no olhar firme de um povo que nunca aceitou ser invisível. Novembro é o mês em que essa história ganha cor, voz e celebração, quando cultuamos a Consciência Negra. No Maranhão, nós vivemos essa memória todos os dias.

No dia 20 de novembro, lembramos Zumbi dos Palmares, símbolo de liberdade e resistência. Ele é a certeza de que a luta corre nas veias do povo preto, inspira os passos da nossa gente e molda a identidade do Maranhão – um estado onde 79% da população é negra, onde está o maior quilombo urbano da América Latina – o bairro da Liberdade – e a cidade com a maior concentração de negros do país: Serrano do Maranhão.

Por essa imensa parcela da população, assumimos compromissos concretos. Nosso governo tem feito isso com seriedade e planejamento. Criamos o Centro de Referência da Mulher Negra Ana Sílvia Cantanhede, garantindo acolhimento, proteção e oportunidades. Ampliamos o afroempreendedorismo com a Feira MA Preta, agora no calendário oficial do estado. Fortalecemos o Estatuto da Igualdade Racial e promovemos debates como o “Julho das Pretas”, que ajudam a transformar políticas públicas em ferramentas reais de inclusão. Avançamos ainda na justiça histórica: já entregamos títulos definitivos a 39 comunidades quilombolas – 2.500 famílias, que hoje têm segurança, dignidade e futuro. O trabalho intenso e comprometido das equipes do Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma) fez com que conseguíssemos regularizar 13 comunidades por ano. Um salto histórico e, certamente, alentador para quem vivia sob o fantasma da insegurança jurídica e que há muitos e muitos anos aguardava o documento de sua terra. Afinal, nos 50 anos anteriores ao nosso governo, foram tituladas 50 comunidades quilombolas – ou, em média, uma ao ano.

Todas essas conquistas se conectam com algo muito nosso: a alma regueira.

Porque aqui, no Maranhão, o reggae é identidade, memória, espiritualidade e, acima de tudo, resistência. Não à toa, São Luís se tornou a Capital Nacional do Reggae pela Lei 14.668, de 2023, publicada no Diário Oficial da União (DOU). Uma proposição que nasceu do Projeto de Lei (PL) 81/2020, de autoria do então deputado Bira do Pindaré, e que foi sancionada pelo presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin. Aqui, o ritmo chegou pelo mar, nos anos 70, foi acolhido pelas periferias negras de São Luís e virou marca registrada: a dança agarradinha; as radiolas que pintam as ruas de som; as letras que falam de amor, paz, fé, luta e pertencimento.

E não por acaso, neste fim de semana, no Mês da Consciência Negra, a ilha vibra com o maior festival de reggae da América Latina. Uma festa que reúne artistas locais, nacionais, internacionais e que reafirma nossa ligação profunda com a Jamaica, fortalecida desde a visita oficial do ministro Edmund Bartlett e o memorando de entendimento que firmamos para ampliar o intercâmbio cultural e o turismo sustentável entre nossos povos.

Neste cenário paradisíaco, o festival significa cultura preta ocupando o seu lugar. É a celebração de uma história que resistiu ao preconceito, venceu o silenciamento e se transformou em orgulho. É a prova de que investir em movimentos como esse é investir em pessoas – no trabalho de DJs, na força das radiolas, no artesanato, no turismo e em toda sua cadeia produtiva.

O novembro da Consciência Negra é um mês que devemos refletir, aprender, honrar quem veio antes e, ao mesmo tempo, celebrar. Porque resistir também é dançar. É cantar. É existir com alegria, consciência e liberdade.

Que o ritmo do reggae nos lembre que nossa luta não para; que nossa voz não cala; e que nossa festa é, acima de tudo, um ato de resistência.

 Bolsonaro admitiu ter usado ferro de solda para romper tornozeleira; PF vê ato como "grave e deliberado"

A Polícia Federal apura as circunstâncias que levaram à violação da tornozeleira eletrônica do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na madrugada deste sábado (22). Segundo informações repassadas à corporação, o próprio Bolsonaro afirmou ter utilizado um ferro de solda para danificar o equipamento de monitoramento.

De acordo com o registro oficial, o alarme do dispositivo foi acionado às 0h07, mobilizando imediatamente a Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal, responsável pelo monitoramento. A equipe de segurança que acompanha o ex-presidente confirmou a violação e substituiu a tornozeleira pouco depois, às 1h09.

Autoridades envolvidas na investigação classificaram o episódio como “perplexizante” e demonstraram surpresa com o que chamaram de “ousadia incomum” do ex-presidente ao manipular deliberadamente o equipamento judicial. Para investigadores, não há margem para interpretação: o ato foi intencional e representa uma quebra grave das regras impostas pelo STF no regime de prisão domiciliar.

Um relatório detalhado está sendo elaborado pela Secretaria de Administração Penitenciária, que deve apontar as condições exatas da violação e esclarecer se Bolsonaro contou com auxílio ou tomou a decisão sozinho. O objetivo por trás da ação também está sendo investigado.

Vigília convocada por Flávio Bolsonaro aumenta tensão

Paralelamente ao episódio, a vigília convocada na noite de sexta-feira (21) pelo senador Flávio Bolsonaro, nas proximidades da residência onde o ex-presidente cumpre prisão domiciliar, acendeu outro sinal de alerta entre autoridades. Integrantes da PF avaliam que a movimentação teve características de ato público, apesar de ser apresentada como momento de oração.