Por: Wilson Lima - G Brasilia
Quem anda pelas ruas da cidade de Codó, distante 292 quilômetros da capital do Maranhão, São Luís, encontra algumas lojas especializadas em produtos esotéricos. Dificilmente, entretanto, irá perceber que em uma delas atende o pai-de-santo mais famoso entre empresários e políticos: Wilson Nonato de Souza, o Bita do Barão, com idade estimada entre 90 e 105 anos de vida - até hoje, nem ele revela, nem se sabe ao certo quantos anos de fato tem.
Bita é conhecido nacionalmente por sua proximidade com políticos influentes, como o senador José Sarney (PMDB-AP) – de quem se diz próximo desde a adolescência – , ou Roseana Sarney (PMDB-MA), filha do ex-presidente. Um dos netos de Roseana, por exemplo, é apadrinhado por Bita, assim como uma das netas de Bita tem como madrinha a própria Roseana. “Conheci Sarney quando adolescente, em São Luís. Eu ainda nem sabia o que era a vida adulta”, brinca Bita.
O ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL), reza a lenda, também seria próximo ao pai-de-santo, além da “maioria” dos governadores, deputados federais, deputados estaduais, empresários e afins. “Sou amigo de grande parte dos atuais governadores”, revela, sem citar nomes. O que se diz é que, coincidência ou não, a procura maior pelo umbandista ocorre justamente em anos de eleições.
Partidário das chamadas “ciências ocultas”, Bita é tido como um sujeito simples e tem relação com o terecô, religião de origem africana costumeiramente associada à região de Codó. Ele atende em um escritório no centro da cidade, próximo ao mercado e em frente a um hotel de sua propriedade, enfeitado com imagens dele com a família Sarney e com dois certificados de santidade, um deles assinado pelo hoje santo João Paulo II e outro por Bento XVI.
Discreto, Bita não revela quem o procura ou o procurou para pedir ajuda espiritual. Dizem que é segredo de Estado, embora os mais próximos afirmem que ele seria o pai-de-santo oficial da família Sarney e de alguns correligionários, como o senador João Alberto (PMDB-MA). Uma das lendas que o cercam diz que, em 1985, os tambores de Codó orquestrados por Bita teriam soado durante sete dias antes do falecimento de Tancredo Neves, possibilitando a posse do hoje senador José Sarney na Presidência. Os dois lados, naturalmente, negam qualquer relação entre os episódios. Mas a proximidade de Bita com a família Sarney lhe rendeu até uma condecoração, em 1988, como comendador da República Federativa do Brasil.
Quem trabalha no terreiro comandado por Bita conta que João Alberto está entre os que prestam uma visita de cortesia ao pai-de-santo semanalmente. E que, somente em 2014, a família Sarney teria tido pelo menos quatro encontros com ele. Um deles, supostamente, teria ocorrido na sede do governo do Estado, o Palácio dos Leões. Outro que já foi visto em dias de festa é o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB).
Este ano, por exemplo, Bita aconselhou Roseana a deixar a política de lado e cuidar um pouco mais da saúde, dos filhos e dos netos. Coincidência ou não, a governadora maranhense, mesmo contra a vontade do pai, não disputará o Senado e pode encerrar a carreira no final do ano. Se bem que Bita não acredita muito nessa tese. “Ela tem a política nas veias”, diz o pai-de-santo, que, apesar dessa relação próxima com políticos, se classifica como um homem avesso ao processo partidário. “Eu não gosto da política. Eu nem sempre saio para votar.”
Ela também procurou o médium João de Deus, que atende na cidade de Abadiânia, a 78 quilômetros do Distrito Federal, antes de se consultar com Bita. Segundo Luana, as dores foram embora apenas após os trabalhos de Bita. “Acho que não era o caso de uma operação espiritual. Por isso o Bita deu mais certo”, relata. Ainda na lista de ações do umbandista, estão situações como a oração pela Seleção Brasileira na Copa de 2002 e milagres concedidos a empresários.
Sua casa de artigos esotéricos vende um pouco de tudo: velas e garrafas com os chamados “banhos” (uma espécie de remédio espiritual) para várias situações na vida, desde melhorar a situação financeira até trazer a pessoa amada. Para este último caso, ele indica uma porção infalível do: “corre atrás de mim”.