domingo, 13 de julho de 2014

Impugnações no Maranhão 


Além da impugnação do registro da candidatura para governador de Edinho Lobão [PMDB], pelo menos mais três importantes impugnações foram registradas ontem (12) no Ministério Publico Eleitoral. 
O petista Márcio Jardim impugnou a candidatura de Nina Melo (PMDB), filha do presidente da Assembleia Legislativa, Arnaldo Melo, também do PMDB.
O Ministério Público Eleitoral (MPE) impugnou a candidatura do suplente de deputado estadual Luciano Genésio – ele também foi impugnado pelo vice-prefeito de Pinheiro, César Soares (PT).
E a pré-candidata a deputada Valéria Braga impugnou a candidatura do suplente de senador Raimundo Monteiro (PT).
Todos os casos devem ser julgados pelo TRE até o dia 5 de agosto. Ainda neste sábado o MPE deve encaminhar à Justiça Eleitoral uma lista com pelo menos 20 impugnações.
Marina Silva critica domínio da oligarquia e pobreza repetida no MA 

Lençóis de esperança, por Marina Silva (ambientalista, historiadora, pedagoga e ex-candidata a presidente da República)
Ontem, em passagem mais uma vez pelo Maranhão, tive a oportunidade de revisitar uma admiração cultivada à distância. Sempre escutei falar de um povo que vivia lá onde termina a floresta amazônica, no encontro com a caatinga e o cerrado, cheio de ricas tradições e conhecimentos, vivendo com grandes sacrifícios em meio a uma grande riqueza natural.
Nessa terra distante sobressaía, como em outras, o traje de seus representantes políticos, muitos deles quase hereditários, mas eram os minúsculos e infinitos grãos de areia que bordavam delicados lençóis para lindamente envolver seu tão desamparado povo.
marina_silva3Um belo povo. Já nas lutas dos povos extrativistas, aprendi a admirar as “quebradeiras de coco babaçu”. Mais de 300 mil pessoas – predomínio absoluto das mulheres, cerca de 90% – trabalhando com o fruto de uma palmeira que é uma dessas dádivas da natureza e gera alimento, energia, cosméticos, uma grande variedade de produtos.
A histórica luta dessas mulheres por seus direitos começa pelo acesso livre às palmeiras em terras que eram ancestralmente comunitárias e só depois conheceram as cercas e as ameaças de derrubada para outros usos da terra. Na continuação, os direitos sociais para milhares de famílias de uma região onde o Estado demorou a chegar com equipamentos mínimos, como escolas e postos de saúde. Aos poucos, o Brasil e o mundo foram conhecendo e reconhecendo o valor dessas pessoas.
Uma das coisas que aprendi no debate sobre os direitos dessas populações foi a questionar a visão que ainda predomina sobre sua participação na economia e seu lugar no futuro. Costumamos pensar o desenvolvimento econômico como uma superação do atraso, com investimentos e tecnologias que vêm “de fora”, muitas vezes jogando fora a história, a tradição e o conhecimento longamente elaborados pelas populações nativas.
A valorização dos produtos das mulheres que trabalham com o babaçu, que hoje alcançam sofisticados nichos de mercado no exterior, mostra que temos um enorme potencial de desenvolvimento. E que esse desenvolvimento é econômico, mas também social, ambiental e cultural. Todas as dimensões da vida humana ganham valor quando não perseguimos apenas o lucro, mas também a justiça.
Com o tempo, fui aprendendo outras coisas sobre o Maranhão. Sempre admirei o povo, mas me espantava o domínio de oligarquias, o atraso da política, a pobreza repetida durante tantos anos.
Ainda hoje é assim. A capital tem algum investimento, uma maior presença do poder público, mas apenas a metade das ruas tem serviços urbanos integrados: pavimentação, esgoto e energia elétrica. O transporte público é muito precário. Tem bolsões de pobreza extrema que alcançam cerca de 6% da população. E se a capital tem problemas tão graves, o interior é ainda pior.
Na avaliação nacional da educação, o Maranhão vai mal. Tem cinco escolas na lista das 20 piores escolas do país. Entre as 20 melhores, não tem nenhuma. É o mesmo para a Saúde e a segurança: nos principais índices sociais, fica sempre abaixo da média entre os estados brasileiros, em alguns casos nas últimas posições.
Eduardo Campos e eu conhecemos as dificuldades do Maranhão, mas ao vê-las de perto atualizamos nossas esperanças de que um bom plano de desenvolvimento local pode mudar muita coisa. Um plano de compromisso claro com a ideia de uma economia socialmente inclusiva e culturalmente diversificada, onde há apoio e lugar para pequenos, grandes e médios produtores e investidores.
Sentimos essa mudança porque entramos em contato também com o povo, com as organizações civis, com lideranças e pensadores locais. Neste ano, especialmente, há um ar diferente na região. Há uma oportunidade de se reunirem os bons projetos e encontrar nas eleições um momento de debate e mudança.
No Maranhão, em todo o Nordeste, no país inteiro, pode ser este um momento de superação.