Atentado terrorista deixa 12 mortos na França
O alvo foi a redação do jornal satírico Charlie Hebdo, que fora ameaçada após publicar caricaturas de Maomé
Carta Capital
Um ataque terrorista contra a redação do
jornal satírico francês Charlie Hebdo deixou ao menos 12 mortos nesta
quarta-feira 7, em Paris. O atentado foi realizado às 11h30 do horário
local (8h30 em Brasília) por um grupo de homens fortemente armados,
aparentemente profissionais, que invadiram a redação do jornal e fugiram
após o crime. Conhecida por suas charges irônicas sobre figuras
políticas e religiosas, a publicação se tornou alvo de terroristas
muçulmanos após publicar charges de Maomé, o profeta do islã, e recebeu
uma série de ameaças ao longo dos últimos anos.
Segundo fontes policiais, os autores do
ataque gritaram “Vingamos o Profeta!”, em referência a Maomé. Ao
abandonar o prédio, os agressores atiraram contra um policial, atacaram
um motorista e atropelaram um pedestre com o carro roubado. Vídeos
amadores mostram ao menos dois homens, mascarados, vestidos de preto e
portando armas automáticas, trocando tiros com policiais nas ruas da
capital francesa. Em um dos vídeos, é possível ouvir os homens gritando
allahu akbar, termo árabe que significa “Deus é grande”, e um deles
executa um policial ferido, caído no chão, com um tiro à queima roupa na
cabeça.
“Ouvi disparos, vi pessoas encapuzadas
que fugiram em um carro. Eram pelo menos cinco”, declarou à AFP Michel
Goldenberg, que tem um escritório na rua Nicolas Apert, onde fica a sede
do jornal. Entre os mortos estão o diretor de redação Stéphane
Charbonnier, o Charb, e três renomados chargistas: Jean Cabut, o Cabu,
Georges Wolinski e Bernard Verlhac, conhecido como Tignous.
De acordo com informações da polícia
francesa, após a invasão à redação da revista, localizada no oeste de
Paris, três homens entraram em um carro em que um motorista os aguardava
para a fuga. Eles seguiram para a Porte de Pantin, no noroeste da
cidade, onde abandonaram o primeiro carro e roubaram um segundo. A
polícia iniciou uma busca pelos agressores pelas ruas de Paris e as
autoridades pediram à população que evitasse circular e utilizar
transportes públicos. Após o ataque, todas as redações de jornais
baseadas em Paris foram colocadas sob proteção policial, assim como
templos religiosos e escritórios do governo.
O presidente da França, François
Hollande, dirigiu-se até o local do atentado e confirmou tratar-se de um
ataque terrorista, o mais violento registrado na França em 40 anos. “É
um atentado terrorista, não há dúvida”, disse Hollande, definindo o
atentado como “um ato de uma barbárie excepcional”.
Segundo fontes policiais, os homens
envolvidos no ataque contra a revista demonstraram calma, determinação e
eficiência, sinais de que eles teriam passado por treinamento militar
intenso. “Vemos claramente pela maneira que portam suas armas que agem
discretamente, bem ao estilo militar, com frieza. Eles receberam
treinamento. Eles não agiram por impulso”, afirmou uma fonte policial.
“O mais impressionante é a sua atitude.
Eles foram treinados na Síria, no Iraque ou em outro lugar, talvez até
mesmo na França, mas o certo é que eles foram treinados”, enfatizou,
destacando também o sangue-frio dos terroristas.
Em novembro de 2011, após publicar uma
caricatura de Maomé em sua capa, com a manchete “Charia Hebdo”,
referência à sharia, a lei islâmica, a redação do Charlie Hebdo foi
atacada com uma bomba incendiária. O Maomé caricaturado pela Charlie
Hebdo em 2011 prometia “100 chicotadas se você não morrer de rir”. A
edição, dizia a revista, era ‘editada’ por Maomé.
Em setembro de 2012, o Charlie Hebdo
publicou novas caricaturas de Maomé. Na capa, o profeta muçulmano
aparecia em uma cadeira de rodas, empurrada por um judeu ortodoxo, sob o
título “Intocáveis 2″. Era uma referência ao filme francês
Untouchables, estrelado por François Cluzet e Omar Sy, que contava a
história da amizade entre um homem rico e doente e seu cuidador, um
imigrante. Dentro da publicação, novas caricaturas exibiam Maomé nu.
Retratar Maomé é um ato problemático,
pois as imagens do profeta são consideradas proibidas por muitos
muçulmanos. Para muitos líderes religiosos sunitas, as representações
visuais de Maomé poderiam provocar “idolatria” e, por isso, são
proibidas.
Edição desta quarta fazia referência ao islã
O Charlie Hebdo fez a divulgação em sua
edição desta quarta-feira 7 do novo romance do controvertido escritor
Michel Houellebecq, um dos mais famosos autores franceses no exterior. A
obra de ficção política fala de uma França islamizada em 2022, depois
da eleição de um presidente da República muçulmano. “As previsões do
mago Houellebecq: em 2015, perco meus dentes… Em 2022, faço o Ramadã!”,
ironiza a publicação junto a uma charge de Houellebecq.