* por Raimundo Borges
Caxias perdeu, sábado (03) passado, um dos seus cronistas que sabia como poucos transformar cada farelo de chão daquela cidade em letras, frase e textos memoráveis. Linhares de Araújo (foto) era um sábio por natureza, por vontade e por ser simples na vida e no que fazia pelas letras de Caxias. Conhecia cada palmo da terra gonçalvina, contava o que se passava em cada esquina, e, vez por outra, até em conversa de comadres ao cair da noite. De tais tartareados extraia a essência do cotidiano da cidade que tanto palpitava em suas memórias.
Linhares charlava com Caxias como quem ficava de bobeira medindo cada metro da passagem do tempo, observando as curvas do vento, o ranger dos galhos das antigas mangueiras do Panteão e o suave gemido das águas do Itapecuru, clamando por socorro. Quando carimbava no fim de cada texto o bordão “Caxias é isso”, Linhares já dava por encerrado o que colocava no papel. Era o desdobre de suas reminiscências de infância, que expunha com a mesma sofreguidão juvenil de quem acabara de gozar com os fatos e a narrativa.
Ele dominava a cronicidade, gênero textual no qual não há preocupação com a estrutura. Nos seus escritos, Linhares demitia tanto a linguagem culta quanto coloquialismos, repetições enfáticas e gírias. Aliás, conforme o próprio gênero permite, como sendo expressão espontânea do pensamento. O acadêmico José Linhares sabia lidar com as letras, como um artesão molda o barro, transformando-as em sensações que nos fazem enfurnar no passado para viver o presente.
Suas crônicas eram farelos de vida e de vivências. Tornava-as agradáveis impressões críticas, humorísticas ou líricas sobre o seu tema preferido: Caxias, com o qual ia cativando a sensibilidade do leitor, chamando-o a acompanhá-lo pelos caminhos dos devaneios, trançados com a realidade da Princesa do Sertão. Como Linhares sabia revelar em cores sertanejas, dando vida a personagens reais, uma abordagem descontraída e descompromissada com estilo ou escola literária.
Para Linhares de Araújo, Caxias era isso. Hoje, ele dormita na eternidade dos imortais, deixando para trás admiradores, os companheiros de Academia Caxiense de Letras, a família e suas crônicas – muitas ainda inéditas. Mas é a vida, essa peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.
* Raimundo Borges
Jornalista, diretor de redação de O Imparcial e membro da Academia Caxiense de Letras