sexta-feira, 27 de maio de 2016

Todos perguntam: como José Sarney, com quase 60 anos na politica, caiu na cilada de um ex-senador de segunda classe como Sergio Machado 

Sarney caiu numa cilada armada por um politico mequetrefe 
Não é confortável a situação do ex-presidente José Sarney (PMDB) face à revelação do teor das conversas com o ex-senador e ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Por mais que se use o argumento de que foram conversas “privadas”, que elas não revelam uma ação efetiva, e que no geral foram manifestações de opinião e avaliações sobre o cenário político, não dá para o cidadão comum não se surpreender e não afundar na perplexidade com algumas declarações do ex-chefe da Nação. Mais ainda falando abertamente e trocando impressões sobre temas gravíssimos com um político do baixo clero, que foi um senador apagado e que só ganhou alguma projeção como presidente da Transpetro e, nessa condição, agora se sabe, operou  somas milionárias para as campanhas do PMDB.
Para quem conhece os meandros da política e tem noção clara de quanto é pesada a guerra pelo poder é possível compreender algumas frases que soam fortemente para a maioria. O ex-presidente da República trocava com um amigo (que amigo canalha, heim?!) impressões sobre o rolo-compressor que é a Operação Lava Jato e tentavam alinhavar caminhos para “ajudar” parceiros apanhados pela rede das delações. As sugestões vão de simples manobras até planos mirabolantes de “amolecer” ministro do Supremo Tribunal Federal, especialmente o relator da Operação, Teori Zavaski, um magistrado de reputação irretocável. Outros diálogos revelam um Sarney ora inseguro, ora irritado e ora meio atordoado, insistentemente provocado por Sérgio Machado e respondendo com monossílabos, às vezes parecendo incomodado. O mais chocante, até mesmo para quem o conhece, é ouvi-lo, preocupado, como se estivesse amedrontado.
Mesmo considerando o fato de que foram conversas fechadas, nas quais os interlocutores falam mais abertamente, é absolutamente desapontador ouvir José Sarney se referir de maneira tão inadequada a ministros do Supremo Tribunal Federal, sugerindo que o Brasil caminha para uma ditadura do Judiciário, avaliando que essa será, se vingar, a pior das ditaduras.
A bombástica e surpreendente revelação sugere uma série de indagações. Como pôde José Sarney, aos 86 anos e quase 60 anos de praia, cair numa cilada armada por um político mequetrefe como Sérgio Machado? Onde estava o faro da raposa experiente, que construiu uma carreira que inclui cinco anos de Presidência da República, três anos e meio como governador do Estado e oito anos de presidência do Senado e Congresso Nacional? Como se explica que um az da política que conviveu os mais importantes líderes da segunda metade do século passado para cá, como Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, se bateu com Leonel Brizola e Neiva Moreira, para citar alguns exemplos se encontra agora constrangido por um golpe tão primário? Enfim, como o político consagrado como comandante da transição da ditadura para a democracia, e que tinha até agora a fama de ouvir muito e falar pouco, caiu numa cilada dessas?
São indagações difíceis de responder, porque tudo o que está acontecendo no momento com um dos mais experientes políticos da República parece ser uma recomendação um tanto enfática de que está na hora de ele se recolher e mergulhar nas suas memórias e esperar que a História o julgue. Afinal, Os Renans, os Jucás e os Machados da vida podem, e devem, responder pelos seus malfeitos e acertar suas contas com a Justiça.
fonte: Repórter Tempo