domingo, 20 de novembro de 2016

A tragédia politica e moral do Rio de Janeiro 

por Ribamar Correa
O banditismo politico de Cabral Filho fere a biografia rica e honrada de Cabral
Sérgio Cabral, 54 anos, construiu uma carreira tão bem sucedida que chegou a ser tratado como um dos membros do PMDB com chance concreta de vir a ser candidato à presidente da República. 

Menino classe média de Copacabana – depois se mudou para Ipanema -, ascendeu como o nome mais brilhante da sua geração, alcançando três mandatos de deputado estadual, um de senador e dois de governador. As investigações mostraram agora que Cabral era um político bandido, que se deixou fascinar pelo dinheiro fácil, por jóias, mansões, helicóptero, restaurantes parisienses caros bancados por desvios por ele comandados em relações promíscuas com empresários da construção civil. A prisão e sua imagem com roupa de presidiário funcionaram ontem como uma guilhotina politica, encerrando sua vida política e tornando-o uma espécie de pária. 

O maior impacto desse desfecho certamente está sendo sofrido pelo seu pai, o vascaino de coração que lhe deu o nome, Sérgio Cabral, jornalista e vereador carioca por três mandatos, que honrou o jornalismo e a política. Sérgio Cabral começou como repórter policial, cobriu política e dirigiu jornal, deixando um legado rico e qualidade e decência profissionais. O seu legado mais luminoso foi ter sido um dos fundadores do Pasquim, ícone maior do jornalismo alternativo nos anos 60 e 70 e que foi a voz irreverente do Brasil que resistia à ditadura militar. Sérgio Cabral também foi preso, só que o motivo da prisão foi a sua decência política na luta inteligente contra a opressão. Outra fatia do seu legado foi como critico musical e pesquisador da MPB, especialmente o samba carioca. Nessa tarefa redescobriu o compositor Cartola, então vigia de carros no estacionamento de um prédio o centro do Rio. Com a descoberta de Sérgio Cabral, Cartola saiu do anonimato enriqueceu o cancioneiro popular e presenteou o Brasil com joias como “O mundo é um moinho”, “As rosas não falam”, “Sala de recepção”, “Tempos idos”, “Peito vazio”, “Cordas de aço” e muitas outras. E finalmente a fatia política do seu legado: três mandados de vereador no Rio de Janeiro, cumpridos sem uma mancha, o que lhe valeu uma cadeira no Tribunal de Contas do Estado, que exerceu até se aposentar em 2007. Tudo isso além de uma vasta bibliografia sobre a MPB. Esse homem, reverenciado no jornalismo, na música e na política, caminha para o fim dos seus dias moralmente afetado pelo banditismo do filho.