terça-feira, 2 de janeiro de 2018

A morte de Humberto Coutinho causa perdas ao Legislativo, ao Governo, à classe politica e à vida de Caxias

da Coluna Repórter Tempo 

Humberto Coutinho: a morte o tirou de cena
no auge de sua bem sucedida carreira
politica   
Caxias perdeu o seu maior e mais influente líder político neste século, a Assembleia Legislativa perdeu o seu presidente mais forte e agregador das últimas legislaturas, o governador Flávio Dino (PCdoB) perde o seu “co-piloto” e principal estabilizador político da sua nave governamental, a medicina perdeu uma importante referência como profissional e empresário da área, e os mais próximos perderam um amigo sincero para todas as horas. O que causou essas e outras perdas foi a morte do médico, empresário, líder político, ex-prefeito de Caxias, deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, Humberto Coutinho (PDT). Ele perdeu a guerra de quatro anos contra um agressivo câncer no intestino, contra o qual usou de todos os recursos médicos disponíveis. Sua partida, aos 71 anos, se deu no melhor momento da sua carreira política – chegou a ser apontado como pré-candidato a senador com largas chances de eleição -, abrindo um enorme vazio no universo da política maranhense e na sua família, da qual era chefe absoluto, dividindo essa liderança com a esposa, a médica e política Cleide Coutinho.
Humberto Coutinho foi uma personalidade fora dos padrões e acima da média. Com quase dois metros de altura, jeitão meio desengonçado e aparência carrancuda, parecia um personagem distante e inabordável. O médico cirurgião, no entanto, revelou-se um sujeito boa praça, afável e que com o tempo se tornou uma referência profissional, com nítida tendência ao messianismo, potencial que ele inteligentemente usou como plataforma para vivenciar sua maior paixão depois da esposa, parceira, amiga e guardiã Cleide Coutinho e seus filhos: a política. Tal paixão foi tão forte que depois de alguns anos de militância, aposentou o médico e deu vida integral ao político, como deputado estadual (cinco mandatos), primeiro prefeito reeleito da historia politica de Caxias, 2004/2008 (dois mandatos), o que foi suficiente para chegar à presidência do Poder Legislativo por três anos consecutivos e ao Governo do Estado por quase uma semana, o que lhe permitiu, ainda que por tempo exíguo, realizar o sonho de todo político maranhense: sentar na cadeira principal do Palácio dos Leões.
O político Humberto Coutinho nasceu nas bases do Grupo Sarney, mas migrou para a Oposição quando os chefes do sarneysismo abraçaram seus adversários em Caxias, não lhe deixando outro caminho. Subestimado, Humberto Coutinho mostrou a sua força política exercendo mandato após mandato de deputado estadual e elegendo-se prefeito por dois mandatos. E o grito definitivo de independência que deu em relação ao Grupo Sarney aconteceu quando ele abraçou a bandeira do governador José Reinaldo Tavares em 2002, para em seguida tornar-se um dos artífices da histórica e espetacular vitória do médico e ex-prefeito de São Luís, Jackson Lago (PDT) no pleito de 2006. Naquela frenética corrida ao voto, abraçou o projeto e viabilizou a eleição do ex-juiz federal Flávio Dino para a Câmara Federal, apoiando sua candidatura ao Governo do Estado em 2010. Manteve sua posição inalterada, apesar do bombardeio adversário, e virou o jogo mais uma vez ao ter participação decisiva na vitória de Flávio Dino para o Governo do Estado em 2014, ganhando do novo líder estadual o carinhoso apelido de “co-piloto”. E foi com essa soma de experiência e  força políticas que ele desembarcou de volta à Assembleia Legislativa em fevereiro de 2015 para ser eleito presidente do Poder quase que por unanimidade e sem qualquer discussão. Sua chegada ao comando do Poder Legislativo foi fruto de uma bem articulada campanha que comandou quando as urnas informaram sua volta ao Palácio Manoel Bequimão, embalado por grande votação.
No comando do Poder Legislativo, Humberto Coutinho se movimentou de tal modo que em pouco tempo se tornou referência, respeitado por aliados e por adversários dentro e fora da instituição parlamentar. Ali, aprimorou a regra política segundo todos os deputados, governistas e oposicionistas, receberiam rigorosamente o mesmo tratamento. E fez cumprir tal regra como uma espécie de princípio respeitado por todos. Na presidência, funcionou como ponte segura e confiável entre Oposição e Governo, intermediando negociações delicadas para destravar a tramitação e aprovação de matérias polêmicas propostas pelo Palácio dos Leões, e mediando conflitos internos entre deputados e promovendo  entendimentos difíceis sobre temas complicados. E foi capaz de gestos absolutamente surpreendentes, como a visita que fez ao empresário João Abreu, preso por suspeita de envolvimento em suposto esquema de corrupção ocorrido no Governo Roseana Sarney, no qual ele foi secretário-chefe da Casa Civil.
O gigante político Humberto Coutinho chegou ao topo do poder fazendo política à maneira antiga, à base da conversa ao pé do ouvido, elevando ao extremo o valor da palavra e da confiança, nunca se deixando mover por interferências externas. Tanto que no meio político era apontado como o maior e mais correto cumpridor de acordos. Não lia jornal – salvo quando um assessor ou aliado da sua confiança lhe mostrava um texto que lhe interessaria -, quase não assistia TV nem se informava por outros canais eletrônicos, como rádio, portais e blogs, por exemplo. Informava-se pela conversa direta, alimentada por uma enorme teia de amigos e aliados. Vários interlocutores ouviram dele que seu maior prazer era sentar numa roda de conversa política. “É disso que eu mais gosto”, disse ao colunista em conversa informal.
Não surpreende, portanto, que a classe política esteja sob o impacto da perda de Humberto Coutinho, que atinge diretamente a população aguerrida e politicamente ativa de Caxias, uma terra que sabe brigar pelos seus ideais e que costuma referenciar seus líderes.