Brasil permite casamento gay, mas ainda há preconceito, diz associação LGBT 
Agência Brasil
O Brasil é um dos poucos países no mundo em que o casamento 
homoafetivo é permitido, desde 2013. O país, no entanto, está longe de 
acabar com o preconceito e a violência contra lésbicas, gays, 
bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBT). "O país, que 
deveria atuar de forma mais contundente, pelo tamanho e influência que 
tem na América Latina, está caminhando para uma situação que, a médio 
prazo, vai ser extremamente difícil", afirma o secretário de Relações 
Internacionais da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, 
Travestis e Transexuais (ABGLT), Beto de Jesus.
Hoje (27), o 
casamento gay tornou-se legal em todos os estados dos Estados Unidos. A 
questão é considerada uma conquista pelos movimentos LGBT e uma vitória,
 pelo próprio presidente Barack Obama.
No Brasil, o casamento 
homoafetivo é estendido a todo o país desde maio de 2013, quando entrou 
em vigor a Resolução 175, de 14 de maio de 2013, do Conselho Nacional de
 Justiça (CNJ).  Segundo ela, os cartórios de todo o país não podem se 
recusar a celebrar casamentos civis de pessoas do mesmo sexo. Antes 
disso, já havia decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior
 Tribunal de Justiça (STJ).
Apesar de já garantir esse direito, o 
Brasil ainda está entre os que mais matam por homofobia, o preconceito 
contra homossexuais. Em 2014, ocorreram 326 mortes, segundo relatório do
 Grupo Gay da Bahia. Na avaliação de Jesus, o fundamentalismo religioso e
 a intolerância, crescentes no país, são as principais causas da 
violência. Ele cita a retirada das discussões de gênero nas escolas, nos
 planos de educação, a falta de ênfase para a criminalização da 
homofobia, cujo projeto de lei foi apensado no projeto do Novo Código 
Penal, em tramitação no Senado, e outros "retrocessos".
Na 
sociedade brasileira, um levantamento feito pela agência de pesquisa de 
mercado e inteligência Hello Research mostrou que 49% da população 
brasileira se diz contra a legalização do casamento gay, 21% são 
indiferentes e 30%, a favor. Foram entrevistados mil brasileiros com 
mais de 16 anos, em 70 cidades de todas as regiões e classes sociais.
A
 luta para que não haja mais brasileiros discriminados por identidade de
 gênero ou orientação sexual faz parte do programa de governo 
apresentado pela então candidata à reeleição Dilma Rousseff. Na opinião 
de Jesus, falta um posicionamento mais firme do Executivo para que a 
questão seja, de fato, efetivada. "A diferença é incrível. Nos Estados 
Unidos, Obama enfrenta essa discussão com os fundamentalistas, e afirma 
os direitos humanos", diz.
Em comparação com outros países latino 
americanos, Jesus, que é também secretário da América Latina e Caribe da
 International Lesbian, Gay, Trans and Intersex Association (ILGA), diz 
que o país está atrás da Argentina, cuja legalização do casamento se deu
 no Congresso Nacional, por meio de voto. "Na identidade de gênero, a 
Argentina aprovou a lei mais moderna do mundo, as pessoas trans 
[transexuais] nao precisam de autorização de ninguém que diga a qual 
gênero pertencem, elas têm autonomia", diz.
No país 
norte-americano, a decisão favorável ao casamento gay veio também do 
Judiciário. Depois de décadas de litígios e ações de ativistas que 
reivindicavam seus direitos em diferentes estados, e em meio ao 
crescente apoio da população, que agora atinge o número recorde de 60%, 
de acordo com um recente levantamento da empresa de pesquisa Gallup.
O
 casamento do mesmo sexo já era permitido em 36 dos 50 estados que 
compõem os Estados Unidos, mais o Distrito de Columbia, onde está 
localizada a capital do país, Washington. Outros quatro estados proibiam
 essa união.
"A decisão do Supremo Tribunal é uma grande vitória 
para casais do mesmo sexo nos Estados Unidos, e vai repercutir em muitos
 países que ainda negam às pessoas o direito de se casar com quem amam",
 disse a organização internacional de direitos humanos Human Rights 
Watch. A organização disse que com este passo, os Estados Unidos 
juntam-se a outros 18 países que já possuem esse direito, incluindo 
Argentina, Brasil, Canadá, Espanha, Nova Zelândia, África do Sul e 
Uruguai.
