terça-feira, 10 de novembro de 2015

Ministro ordena uso da força contra caminhoneiros se necessário 

O Globo

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) aplique multas e, se necessário, use a força para desobstruir rodovias bloqueadas por caminhoneiros do Comando Nacional do Transporte, entidade criada no ano passado à revelia dos tradicionais sindicatos da categoria. Relatório divulgado pela PRF às 11h nesta terça-feira aponta bloqueios parciais em 30 trechos de 17 rodovias federais em oito estados — Ceará, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins.

O ministério considera baixa a adesão às manifestações, mas entende que não pode tolerar bloqueios e arruaças. Os protestos teriam como objetivo provocar desabastecimento de alguns produtos em determinadas regiões e, com isso, desestabilizar o governo. O item número um da pauta dos manifestantes é a deposição da presidente Dilma Rousseff.

A Advocacia-Geral da União (AGU) estuda a possibilidade de ajuizar ação, ainda nesta terça-feira, contra caminhoneiros que estão participando do bloqueio de estradas federais em pelo menos sete estados. Advogados da AGU já estão em contato com representantes do Ministério da Justiça e da PRF para definir uma linha de atuação no caso. A ideia é repetir a estratégia do ano passado quando, a pedido da AGU, a Justiça Federal determinou o desbloqueio das rodovias e estabeleceu pesadas multas em caso de desobediência à ordem.

No segundo dia de greve, o Rio Grande do Sul era o estado com mais manifestações às 11h: nove. Todas elas, no entanto, eram parciais e não impediam a passagem de veículos. O Paraná apresentava sete pontos com interdições e liberação seletiva do tráfego, enquanto Santa Catarina tinha três também com impedimento à passagem de veículos e um sem bloqueio. Em Minas Gerais foram contabilizados cinco trechos em que a passagem era seletiva. Tocantins também tinha um ponto em que o trânsito não era totalmente livre, assim como Ceará e Goiás. Os grevistas estavam em dois trechos no Mato Grosso do Sul, um sem impedir o trânsito e outro com liberação apenas para alguns.

Na segunda-feira, o governo federal atuou para enfraquecer a greve, que no primeiro dia bloqueou 48 pontos de rodovias em 12 estados. Cardozo anunciou que os caminhoneiros que tentarem impedir o “direito de ir e vir” receberão multas de mais de R$ 1,9 mil. Para ele, os líderes do movimento não têm uma reivindicação da categoria dos caminhoneiros, mas uma “pauta política”. Um reflexo disso é a falta de apoio à greve atual por outras entidades da categoria.

Outros sindicatos de caminhoneiros criticaram os protestos ontem. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) classificou como imoral “qualquer mobilização que se utiliza da boa-fé dos caminhoneiros autônomos para promover o caos no país”. Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), filiada à CUT, os caminhoneiros estão sendo usados em prol de interesses políticos. O líder do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), Nelio Botelho, disse na segunda-feira que a força do primeiro dia de greve superou as expectativas da organização. No entanto, afirmou que a entidade não vai participar de eventuais protestos, assim como não atuou na paralisação do primeiro semestre.