segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Visita do ex-presidente Lula ao Maranhão agita meio politico e estimula a especulação de que ele pode encontrar Sarney  

Lula na Bahia: ex-presidente recebido com festa em Salvador, onde iniciou
maratona  
Em meio às inúmeras especulações que adornam a incursão política do ex-presidente Lula da Silva (PT) no Nordeste, iniciada ontem em Salvador (BA), já sendo marcada por polêmicas, uma delas, soprada pelo jornal Folha de S. Paulo, poderá dar muito que falar na passagem do líder petista em São Luís: a de que ele poderá ter um encontro com o ex-presidente José Sarney (PMDB). Sarney e Lula foram adversários, tornaram-se aliados a partir de 2002, estreitaram as relação durante os dois governos do petista, mantiveram-nas no primeiro Governo de Dilma Rousseff (PT), e as  romperam quando Sarney aderiu ao movimento do PMDB para derrubar a petista e voltar ao poder com a entronização do vice-presidente como titular no Palácio do Planalto. De lá para cá, o fosso que havia separando os dois foi reaberto, não havendo notícia de qualquer contato entre eles, salvo quando Sarney ligou para Lula quando da morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia. Chefes petistas dizem que a especulação da Folha não faz sentido e que a programação de Lula no Maranhão só prevê reuniões e atos com a presença do governador Flávio Dino (PCdoB), tido como o mais determinado aliado do PT no País.
Lula desembarcará em São Luís no dia 04 de setembro para cumprir uma agenda de eventos políticos, que só será encerrada na noite do dia 05 com um grande ato na Praça Deodoro. Seu primeiro compromisso ocorrerá na tarde do dia 04 e será um encontro com o governador Flávio Dino, no Palácio dos Leões. Na agenda informada ao comando estadual do PT não há qualquer menção a encontros políticos fora do roteiro, principalmente com o ex-presidente José Sarney. O comando estadual do PT não repudia ostensivamente a aliança – imposta por Lula e José Dirceu – que o partido manteve com o PMDB no Maranhão ao longo de mais de uma década – chegando a ter um dos seus líderes, Washington Oliveira, eleito vice-governador na chapa em que Roseana Sarney (PMDB) foi reeleita governadora em turno único na eleição de 2010 -, mas não admite sequer a possibilidade de voltar a conviver com o Grupo Sarney, principalmente depois do apoio ostensivo do ex-presidente e da ex-governadora ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Bombardeado de maneira intensa e inclemente pela chamada “grande imprensa” a partir da Operação Lava Jato, Lula vem ao Maranhão num  esforço para mostrar que está sendo alvo de uma tremenda injustiça,  reafirmar que está vivo e atuante, e consolidar a sua liderança visando a eleição presidencial de 2018, para a qual desponta como favorito. O ex-presidente sabe que tem força política gigantesca no estado, sendo embalado por pesquisas que o apontam com mais de 70% das preferências do eleitorado maranhense, sem dar chance a nomes como Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) ou Jair Bolsonaro (que procura um partido). Tem na sua conta corrente com os maranhenses milhares de cartões do Bolsa Família, milhares de unidades do Minha Casa, Minha Vida, e uma extensa lista de outros benefícios sociais que  criou com o objetivo de acabar com a fome e a miséria no Maranhão. Sua base de apoio político e pessoal no estado é sólida como uma rocha. E agora tendo o governador Flávio Dino como um fator agregador.
À primeira vista, nada justificaria uma visita do ex-presidente Lula ao ex-presidente José Sarney em meio a uma incursão dessa natureza. O líder petista nada teria a ganhar politicamente. Ao contrário, surpreenderia e decepcionaria os seus aliados, que não compreenderiam nem aceitariam tal gesto depois de tudo o que aconteceu desde que Sarney embarcou na onda que varreu o petismo do poder em Brasília. Deixaria o eleitorado atônito. Tal gesto deixaria ainda o governador Flávio Dino numa situação delicada, mesmo levando em conta sua capacidade de assimilação de golpes políticos e o nível de aproximação que construiu com o PT dentro e fora do Maranhão.
A experiência e a História têm mostrado que a política, por ser a arte da convivência de contrário, costuma produzir situações inimagináveis, como foi, por exemplo, a aproximação de Lula e Sarney no início do novo século, e que se transformou numa aliança que durou mais de uma década. Daí, mesmo levando em conta o terreno minado que hoje os separa, não será de todo surpreendente se Lula fizer algum contato com Sarney, ou for contatado pelo mesmo na sua passagem por São Luís. Se nada acontecer, tudo certo, a vida continua. Mas, se a especulação se confirmar, o fato terá carga simbólica pesada. E dará muito pano para as mangas.
do Repórter Tempo