sábado, 23 de julho de 2016

Caxienses da velha guarda festejam suas raízes e identidade, revivem a "época de ouro" e celebram a Princesa do Sertão  


por Ribamar Correa 

Desde quarta-feira (20), Caxias está transformada em ponto de confluência de duas das suas gerações mais avançadas no tempo, a que mistura sessentões e setentões. Acontece na Princesa do Sertão Maranhense o 4º Encontro da Velha Guarda, que reúne caxienses espalhados no Brasil e no mundo inteiro, e que para ali retornam com o objetivo de, em clima festivo, reencontrar suas raízes. O encontro dura quatro dias e acontece por meio de vasta programação, que inclui, entre outros eventos, exposições, conferências, reuniões em praças e bares tradicionais da cidade, a serenata que arrasta uma multidão pelas ruas do centro da cidade, e o momento mais sublime: o baile, que acontece neste sábado, no Clube Alecrim. Só um caxiense da gema e daquela geração sabe o que foram aqueles anos, quando adolescentes se entregaram intensamente à busca da maturidade e viveram experiências inesquecíveis.
Tudo começou nas primeiras semanas de 2010, quando Eunice Soares, uma das musas daquele tempo, e Nemias Negreiros, ambos residindo havia décadas no Rio de Janeiro, tiveram a ideia mágica de reunir a turma num encontro festivo na terra-mãe. O evento – imaginou-se logo -, teria uma motivação retrô, principalmente o baile, que seria embalado por um repertório da Jovem Guarda, que resgataria, pelo menos momentaneamente,o clima da chamada “época de ouro”, ao longo da qual aquela que hoje comemora era feliz e sabia que era feliz – tanto que nunca esqueceu aqueles anos e resolveu revivê-los.
A notícia se espalhou como uma chama em rastilho de pólvora, causando entusiasmo pouco visto. Logo se fez um grupo formado por Sillas Marques Jr., Lúdice Machado, Wilton Lobo, Reinaldo Passarinho, José Antélios (Cascaria), Renato Menezes, Ribamar Corrêa, José Maria Machado e Antonio Torres Filho (Cafinfa) que, mesmo de longe, mas com o apoio de muitos, conseguiu articular a primeira versão, que aconteceu em julho daquele ano. A ideia deu tão certo que, já na ressaca do baile, o grupo começou a programar o segundo encontro, que foi mais bem sucedido que o primeiro, porque motivou muitos outros caxienses a retornar ao torrão. Veio a terceira edição, já tendo o evento ocupado lugar de destaque no calendário cultural da terra gonçalvina.
A quarta edição está acontecendo de maneira muito bem mais organizada, com base numa programação de larga importância e que começou com nada menos que a reabertura do palacete do comendador Alderico Silva, o Seu Dá. Trata-se de uma maravilhosa estrutura neoclássica, decorada com luxo e bom gosto, que se tornou uma espécie de símbolo da prosperidade de Caxias nos anos 50 e 60, muito identificada, portanto, com a geração que hoje se reencontra. Ali, artistas plásticos e poetas caxienses expuseram suas obras, suas emoções, nos salões e jardins do palacete.
Caxias não é uma cidade comum. Nos anos que inspiraram o Encontro da Velha Guarda, em especial a década de 60, a cidade era o centro do mundo. Socialmente era uma sociedade estruturada em três níveis, nitidamente simbolizada pelos clubes que abrigavam suas elites. O Cassino Caxiense era o espaço festivo onde se confraternizavam os ricos, abastados e a classe media alta; a União Artística e Operária Caxiense, templo da classe média baixa, dos comerciários e do operariado fabril; e o Centro Operário Caxiense, que abrigava estivadores, pedreiros, ferreiros, pescadores, canoeiros, etc. O Encontro da Velha Guarda confraterniza remanescentes dessa realidade sem nenhum sentimento ou preconceito de classe.
Depois de três dias de festa, o grande momento de confraternização acontece hoje, no baile que animará os salões do Clube Alecrim, aonde as lembranças da adolescência virão com mais força ao som de ídolos daquele tempo, como Vanderley Cardoso, Martinha e os Vips. Ali todos se reencontrarão numa ciranda de abraços, apertos de mão, muitos com lágrimas expostas e reprimidas. Cada um reencontrará seu amor platônico de infância, mas que o destino e as exigências da vida separaram e não lhes deram chance. Será momento da reincorporação de uma identidade social, cultural e política que nunca se altera, fique o caxiense o tempo que ficar longe do seu lugar e dos seus. Amanhã, os retornados partirão novamente, saciado de amizade, de carinho e de fraternidade, certamente já pensando que daqui a dois anos estarão de volta.
E levarão, para alimentar na memoria, a orgulhosa e próspera Caxias que fez história pela ação dos Silva, Baima, Pereira, Sales, Guimarães, Corrêa, Simão, Menezes, Torres, Machado, Barros, Beleza, Assunção, Castro, Kós, Cantanhede, Carvalho, Soares, Negreiros, Cruz, Leitão, Lobo, Chaves, Vilanova, Moura, Ramos, Brito, Coutinho, Varão, Costa, Cunha, Nunes, Gentil, Brandão, Marques, Frazão, Lisboa, Campos, Noleto, Ferro, Farias, Saldanha, Fernandes, Aragão, Barata, Souza, Oliveira, Santos, Oliveira, Serejo, Queiroz, Medeiros, Nogueira, Mota, Vasconcelos, Marinho, Teixeira, Providência, Albuquerque, Daniel, Lobão, Maranhão, Coqueiro, Borboleta, Maciel, Vidigal, Viana, Magalhães, Reis, Bastos, Ribeiro, Vilhena, Barros, Fortes, Castelo, Leite, Mendes, Abreu, Pinto, Vanderley, Raposo, Araújo, Bolsinha, Moreira, Sabiá, Dias, Sabiá, Sampaio e muitos outros troncos familiares que formam a grandiosidade da Princesa do Sertão, hoje celebrada por seus vaidosos rebentos.