segunda-feira, 8 de julho de 2013

ATENTADOS CONTRA SARNEY.

O senso comum imagina que a vida de político é um mar de rosas. Para os que assim pensam a militância política é sinônimo de mordomia, usufruto de poder e facilidade para transacionar negócios rendosos. Na verdade, para os políticos com p minúsculo, a política só tem servido para isso. Mas, para os políticos com p maiúsculo, nem sempre isso é verdade. Vejam, por exemplo, o senador José Sarney. Em dois momentos importantes de sua vida pública, quando exerceu o cargo de governador do Maranhão (1966 a 1970) e quando esteve no comando do Poder Executivo do Brasil (1985 a 1990), sofreu atos que o levaram a correr risco de morte.
Em São Luis, no dia 8 de novembro de 1967, uma cena tétrica ocorre com objetivo de atentar contra a vida do então governador José Sarney, no momento em que estava com a popularidade nas alturas, mercê da gestão que realizava no Estado, calcada na mudança de mentalidade, na modernização da máquina administrativa e no processo de desenvolvimento das estruturas econômicas e sociais.
Estávamos nas proximidades das eleições de 15 de novembro de 1967. Legislativa. O governador, empenhado em eleger uma bancada de deputados federais, estaduais e o candidato da Arena ao Senado, Clodomir Miilet, decidiu participar de um comício, à noite, no bairro da Belira. Ao começar o seu pronunciamento, eis que, súbita e inopinadamente, surge no meio da multidão, um jovem, moreno e alto, empunhando uma longa faca, invade o palanque e aos berros vociferava: – “Sarney, tu vai morrer agora. Sarney, tu vai morrer agora”. Impactado com a ação do desconhecido, o governador ficou inerte e lívido, o mesmo acontecendo com Dona Kiola, Dona Marly e os políticos que ali se encontravam.
Ensandecido, o jovem partiu furiosamente na direção de Sarney, mas não conseguiu praticar o ato delituoso, face à intervenção imediata e firme do capitão Albérico Ferreira, tio do governador e seu secretário particular, e de Mundinho Guterres, que interceptaram a trajetória do insano jovem. A multidão, que assistia ao comício partiu para linchá-lo, só não o fazendo pela ação rápida e enérgica de Sarney.
A repercussão do grave episódio na cidade foi imediata e a população imediatamente começou a se perguntar: quem era aquele jovem e a serviço de quem ele desejava matar Sarney?
Preso na Polícia Central e aberto o inquérito, a imprensa informou que o jovem chamava-se Antônio Araújo Filho, residente à Rua César Aboud, 75, na Belira, nascido em São Luis a 31 de agosto de 1938, ex-aluno da Academia de Comércio. Como comerciário, trabalhou em diversas firmas de São Luis, dentre as quais os Armazéns São Paulo e Pioneiro, onde era tido como um indivíduo de temperamento exaltado e de difícil relacionamento com os colegas. Soube-se também que ele havia passado uma temporada no Rio de Janeiro e trabalhado nas Casas da Banha.
As primeiras hipóteses levantadas pela polícia eram de que Antônio Araújo tentara assassinar José Sarney em represália aos numerosos inquéritos administrativos abertos pelo governador contra antigos ocupantes de cargos públicos, para apurar desvios e malversações de recursos públicos. Nesse particular, o secretário de Segurança, coronel José Rodrigues Paiva, solicitou ao Comando do 24º Batalhão de Caçadores ajuda na apuração do caso, bem como informações à Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro sobre as atividades de Antônio Araújo.
No dia 12 de novembro, o coronel Paiva viaja a Fortaleza, levando o processo para a Auditoria da 10ª Região Militar, a quem competia julgar crimes contra a Segurança Nacional. Tempos depois, a Auditoria Militar manda arquivar o processo pelo convencimento de que o indiciado, após rigorosos exames médicos, não fazia parte de nenhum grupo político e que o seu tresloucado gesto foi praticado por distúrbios psicológicos e instabilidade emocional.
No dia 25 de junho de 1987, vinte anos depois do atentado contra o governador José Sarney, ele, então presidente da República, no exercício de seu segundo ano de mandato, sofre novo atentado, desta feita, no Rio de Janeiro, quando cumpria uma agenda de compromissos, que se encerrara com a inauguração da reforma do Paço Imperial, na Praça 15 de Novembro.
Um grupo formado pela CUT, PT e PDT, acompanhou a comitiva de Sarney durante todo o dia. À noite, depois do evento, ao sair do Paço Imperial, o ônibus em que estava o presidente da República foi cercado pelos manifestantes que gritavam palavra de ordem contra o seu governo, que atravessava um momento de desgaste.
As grades que separavam os manifestantes do ônibus foram insuficientes para impedir os agressores, que armados de picaretas, atacaram a comitiva presidencial. No auge do protesto, o ônibus foi apedrejado e um manifestante quebrou, com golpes de picareta, o vidro em que estava sentado o presidente José Sarney, na tentativa de praticar um ato que ceifaria a sua vida. Se não fora a ação pronta e efetiva dos seguranças e das forças policiais que dispersaram os manifestantes, o atentado teria sido concretizado. Dois membros do PDT foram presos e responsabilizados pelo atentado contra Sarney.