segunda-feira, 30 de junho de 2014

Ricardo Kotscho 'Não vai ter Copa' virou, "Não vai ter Hexa" 

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“Para a nossa mídia familiar e os coxinhas tucanos da elite que vão aos estádios da Copa, como mostrou a Folha de domingo (29), o Brasil simplesmente não pode dar certo, nem dentro nem fora do campo”, disse o colunista Ricardo Kotscho; ‘agora jogam tudo nas fragilidades da nossa seleção, mudando o discurso para “Não vai ter hexa”’, acrescenta
247 – O colunista Ricardo Kotscho critica “nossa mídia familiar e os coxinhas tucanos da elite que vão aos estádios da Copa”, que insistem em discursos derrotistas sobre o Mundial. Leia:
Mudaram o Não vai ter Copa pelo Não vai ter Hexa
Eles não esquecem, não perdoam e não aprendem. E não desistem. Para a nossa mídia familiar e os coxinhas tucanos da elite que vão aos estádios da Copa, como mostra a Folha deste domingo, o Brasil simplesmente não pode dar certo, nem dentro nem fora do campo.
Sem jogar nenhuma maravilha, a seleção brasileira vinha fazendo sua melhor partida até aqui, contra o Chile, neste sábado, no Mineirão, até marcar o primeiro gol. Parecia até que seria fácil a classificação para as quartas de final. De repente, numa bobeada grotesca de Hulk, que deu de presente o gol de empate para La Roja, até então assustada em campo, mudou tudo. A nossa torcida chique silenciou, a seleção de Felipão se perdeu, e os chilenos tomaram conta da festa.
Nas praias do Nordeste, os bugueiros (não confundir com blogueiros) costumam perguntar ao turista se prefere fazer os passeios pelas dunas com emoção ou sem emoção. Para nós, ninguém perguntou nada, mas a teimosia do nosso técnico em não mexer no time quando as coisas não estão dando certo, mantendo dois laterais que não marcam nem atacam, e deixam avenidas às suas costas, um meio de campo sem criatividade e o cone Fred estático no meio do ataque, fez do jogo um sofrimento sem fim até a cobrança do último pênalti.
Vejam como é a vida: pois foi esta mesma teimosia mostrada por Felipão ao manter Julio César no gol, contra a vontade de 10 entre 10 comentaristas e torcedores, porém, que acabou sendo o principal responsável pelo Brasil garantir a vaga para a próxima fase. Em lugar de Neymar, que joga numa solidão danada, o herói desta vez foi Julio César, o goleiro crucificado pela nossa eliminação no jogo contra a Holanda, na Copa de 2010.
Quem poderia imaginar uma reviravolta dessas? Só conheci uma pessoa, além de Felipão, que defendeu Julio César antes e durante o jogo, a minha amiga Ana Paula Padrão, com quem assisti ao jogo ao lado de outros amigos aqui no bar da esquina.
Até o Sebastian, meu primo alemão que vive nos Estados Unidos e está adorando o Brasil, acabou sofrendo junto, cada vez que errávamos mais um passe e o time simplesmente não conseguia chegar ao gol do Chile. “Eu não disse?” comemorou a Ana Paula ao ver Julio César fazer uma defesa impossível e depois defender dois pênaltis.
Se já não era muito grande a confiança na conquista de mais um título porque esta Copa revelou ótimas seleções, como a da Colômbia, que estão jogando um futebol melhor do que o nosso no momento, agora a urubuzada da imprensa deitou e rolou diante das dificuldades que encontramos, depois de muita emoção, para seguir em frente na Copa. E tem graça futebol sem surpresas e emoções?
Após passar o ano inteiro jogando no “Não vai ter Copa” e batendo pesado no governo, que seria incapaz de organizar um evento como esse sem colocar em risco os torcedores nativos e as seleções visitantes, além dos cofres públicos, eles acabaram se rendendo à grande festa em que se transformou esta Copa no Brasil, e até já estão fazendo autocríticas envergonhadas sobre o erro das suas previsões apocalíticas. Agora, com a maior cara de pau, simplesmente colocam a culpa na “imprensa estrangeira”, como se não tivessem sido eles próprios que alimentaram o noticiário negativo desde que o Brasil foi escolhido, sete anos atrás, para sediar a Copa.
Como se dissessem, tudo bem, a Copa é um sucesso, mas vocês vão ver a ressaca que virá depois, agora jogam tudo nas fragilidades da nossa seleção, mudando o discurso para “Não vai ter hexa”. Felipão pode até ter um estalo e acertar o time para o próximo jogo que eles vão continuar torcendo contra e anunciando o fim do mundo. Se fora de campo tudo está funcionando muito bem, então dentro do campo tem que dar tudo errado.
Ganhar ou não o hexa pode depender de mil coisas, inclusive da sorte na cobrança de pênaltis e das virtudes de adversários cada vez mais fortes daqui para a frente. Como disse um amuado Felipão na véspera do jogo, se perdermos, não vai ser nenhuma tragédia, e a vida vai seguir em frente. Só uma certeza eu tenho: para quem jogou tudo no caos para desgastar o governo e ficou até com vergonha do Brasil, no entanto, esta Copa já foi perdida. Eles parecem ter nascido para perder.
Que venha a Colômbia!