segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Foragido que pagou propina a Roseana Sarney vai se entregar à Policia Federal

Em ofício encaminhado no final da tarde desta sexta-feira à Justiça de Curitiba (PR), a defesa de Adarico Negromonte Filho, 70 anos, garante que ele vai se apresentar na sede da Polícia Federal (PF) na cidade na próxima segunda-feira. Ele é o único suspeito foragido da Operação Lava-Jato.

No documento entregue à Justiça, as advogadas afirmam que Adarico não pode ser considerado foragido, pois “em momento algum foi realizada diligência em sua residência na cidade de Registro, SP, para o cumprimento da medida coercitiva”.

“Assim, o Requerente, por não suportar mais as mazelas decorrentes da prisão temporária decretada por Vossa Excelência, por intermédio de suas advogadas, no dia de hoje, entrou em contato com a Delegacia da Polícia Federal de Curitiba e informou às Autoridades Policiais atuantes na denominada Operação Lava-Jato, que se apresentará, a fim de que possa contribuir com as investigações criminais”, informa a defesa do suspeito, que também pediu a revogação da prisão temporária dele.

Segundo as investigação, o irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte atuava no transporte de dinheiro ilícito. Ele seria um dos quatro “mulas” (carregadores de mercadoria ilegal) usados pelo doleiro Alberto Youssef para entregas confidenciais.

Eles trabalhavam na GFD, uma das empresas criadas por Youssef para lavar dinheiro, com sede na Rua Paes de Barros, em São Paulo. No grupo de transportadores, estão Rafael Ângulo Lopez, o Véio (condenado no processo originado pela Operação Curaçao, da PF), e Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca (agente da PF, preso na Lava-Jato).

Mais de 30 telefones celulares

O baiano Adarico recebeu o apelido de Maringá por ter se envolvido há mais de uma década com Youssef, natural dessa cidade do Paraná. Quando o doleiro foi preso em São Luís (MA) com 34 telefones celulares, em março, os policiais encontraram mais de 30 mensagens dirigidas a Adarico.

A capital do Maranhão, aliás, é sede de outro caso envolvendo Adarico. Contadora de Youssef, Meire Bonfim da Silva Poza relatou à PF que o doleiro pagou propina ao governo maranhense. Conforme ela, a mando de duas construtoras, Youssef negociou o pagamento de R$ 6 milhões em suborno para que o Estado antecipasse um pagamento de cerca de R$ 120 milhões que beneficiava as empreiteiras.

A contadora diz que Adarico, irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte, veio ao Maranhão entregar R$ 300 mil, que seriam parte do acordo entre o doleiro Yousseff, a construtora Constran e a governadora Roseana Sarney.

O precatório era o quinto na ordem de liberação. Após a propina, as construtoras “furaram a fila”, e o pagamento foi liberado parceladamente. O precatório se referia a um contrato na metade da década de 1980 para serviços de terraplenagem e pavimentação da BR-230. O valor se refere a 15% cobrados pelo doleiro. Quem teria intermediado o repasse do dinheiro, em espécie? Adarico.

A governadora Roseana Sarney (PMDB) negou conhecê-lo, e o caso é investigado pela Lava-Jato. Homem de confiança do doleiro Youssef, o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, em depoimento, fala que Adarico atuava como “mula” internacional.