terça-feira, 24 de novembro de 2015

De quebradeira de coco a empreendedora de sucesso na região dos cocais 

Agencia Assembleia

Marionete Brito da Conceição (foto) começou a trabalhar como doméstica ainda quando morava no interior do Piauí. No Maranhão, passou a viver como quebradeira de coco, coco babaçu, fruta típica da região, da onde se extrai o leite e o azeite.

Assim como para tantas outras famílias, por anos, essa foi a principal fonte de renda da agricultora para cuidar dos seus três filhos. “Quando a gente conseguia vender tudo que quebrava no dia dava para tirar uns cinco reais”, contou.

No povoado Alecrim, onde morava, localizado a 58 km do município de Caxias, cerca de 70 famílias receberam do INCRA, através do Projeto Assentamento (PA), 60 hectares de campo agrícola para dividirem entre si. A ideia inicial era de que a terra, que rendia frutas da estação como caju, acerola, goiaba, manga, jenipapo, carambola e limão, fosse a principal fonte de renda dos agricultores da região.

E foi assim por um bom tempo. Mas, de acordo com relatos do presidente da Associação dos Agricultores do Povoado do Alecrim, José Costa, distúrbios climáticos começaram a destruir as plantações. Com isso, os agricultores passaram a tentar outros meios para o sustento. Chegaram a fabricar bijuterias, artesanato e até criação de caprinos. Porém, nada disso deu certo.

Foi o que levou o Sebrae a visitar pela primeira vez o assentamento, em 2007, através do Projeto de Atendimento Rural. Lá, orientaram os trabalhadores a fazerem o aproveitamento integral das frutas que estavam trazendo prejuízo quando estragavam ou machucavam.

A capacitação foi direcionada a 30 mulheres do assentamento alecrim. Elas aprenderam a produzir licores, doces, polpas, entre outros produtos derivados das frutas.  “Adaptamos a tecnologia de agroindústria familiar à realidade delas, com seus fogões de barro e suas próprias panelas, sem que houvesse prejuízo na qualidade do produto”, explicou Milena Cabral, gerente do Sebrae, Unidade Caxias.

Dessas mulheres, a agricultora Marionete Brito ganhou destaque, porque fez do caju o ‘ouro do alecrim’. Com criatividade de sobra, começou a criar receitas inimagináveis a partir da fruta: croquetes, tortas salgadas, almôndegas, recheio de panquecas, bifes, carnes de hambúrguer e até lasanhas. Marionete garante que o sabor nem lembra o caju. “É como se fosse carne de caranguejo ou de frango. Pra chegar ao ponto da carne é só manter a rigidez”, explicou. E o segredo para manter a rigidez? Marionete não conta, é claro.

A força de vontade e o espírito empreendedor da agricultora despertaram o interesse do Sebrae, que passou a prepara-la ainda mais. Marionete aprendeu sobre finanças, gestão, padronização, designers de embalagens, rótulos, preços finais, enfim, tudo que um microempresário precisa para competir no mercado de trabalho. Isso através de consultorias, capacitações, palestras e cursos gratuitos.

“A Marionete é um caso de sucesso. Dentre as varias pessoas que foram capacitadas, ela é a pessoa que sempre busca o Sebrae, sempre está querendo empreender, melhorar, então, ela é a cara do Sebrae. E é pra isso que estamos aqui, pra ajudar nesse fortalecimento do empreendedorismo”, disse a gerente Milena Cabral.

O investimento na agricultora foi além, o Sebrae ajudou a desenvolver a sua própria marca batizada de ‘Delícias de Caxias’ e também a padronizar seus produtos, utilizando embalagens trabalhadas a mão, de forma artesanal. A ideia, segundo Milena, é manter a concepção inicial do produto, que são naturais e regionais.

“Quando a gente trabalha o desenvolvimento de uma marca é justamente com o foco de que aonde você chega, identifica a origem. Eu posso estar em São Luís ou em outro estado, que eu vou estar sempre retomando ao município de de Caxias, contribuindo, assim, além do desenvolvimento desses produtores, a desenvolver o município”, afirmou.

Logo que seus produtos se espalharam pelos supermercados, padarias, hotéis e restaurantes de Caxias e região veio a necessidade de fabricar em quantidade maior e em menos tempo. Produzir no fogão de barro na casa da sua mãe, a dona Pedra, já não supria as demandas. Além disso, Marionte já necessitava de uma equipe.

Sempre ousada, Marionte procurou ajuda da Câmara Municipal de Caxias. O vereador Jerônimo prontamente atendeu o seu pedido e lhe cedeu a cozinha do APAE da cidade nos fins de semana. “É perfeito. Já tem tudo. Formas de todos os tamanhos, panelas, forno industrial, tudo que eu preciso”, informou Marionete. Foi assim que a empreendedora ganhou uma nova rotina nas sextas, sábados e domingos.

Saindo de casa antes das 6h e de carona em cima de um caminhão, Marionete enfrenta muito sol e poeira até chegar ao seu novo local de trabalho. “Vale a pena”, garante.

Junto com a nova rotina, Marionete ganhou mais clientes e novos parceiros. Além do Sebrae e da  Câmara Municipal, a COOPERVIDA  (Cooperativa dos Produtores Rurais de Caxias e Região dos Cocais) também entrou para a produção.

Hoje, são pouco mais de 50 pessoas envolvidas em todo o trabalho e as produções seguintes já dependem do recurso adquirido com as vendas. “Ao final do dia, temos em torno de 600 reais. Esse dinheiro é todo divido para o capital de giro e entre os funcionários, conforme o Sebrae nos ensinou”, ressaltou.

AGRITEC

Na Feira de Agricultura e Tecnologia, que aconteceu de 11 a 14 de novembro no Parque das Cidades de Caxias, promovida pelo governo do estado, a ex - quebradeira de coco e agora microempresária queria ir mais longe. Vender todos os produtos ali expostos era pouco, Marionete buscava um patrocínio para lançar um livro com suas deliciosas receitas. “Todas criadas por mim”, fez questão de ressaltar.

O patrocínio de mais um dos seus sonhos ainda não deu certo, mas, na abertura da Agritec conseguiu a visita do presidente da Assembleia, deputado Humberto Coutinho (PDT), e do governador Flávio Dino (PCdoB), que pararam no seu stand para saborear suas ‘Delícias de Caxias’.

A Agritec, que é uma iniciativa do Sistema de Agricultura Familiar - Secretaria de Agricultura Familiar (SAF), Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Maranhão (Agerp) e Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma) – em parceria com Embrapa, Sebrae e movimentos sociais, tem como objetivo dinamizar a economia criativa, qualificando e criando espaços para discussão de políticas públicas e comercialização da agricultura familiar.

Humberto Coutinho elogiou o avanço dos agricultores que, assim como Marionete, tem buscado soluções para aumentar e qualificar suas produções, aliando conhecimento, produção e tecnologia.

“Esse momento comprova que nós acreditamos que a produção ao lado da capacitação, da formação e da tecnologia são essenciais para que a gente possa ter indicadores econômicos melhores, ou seja, havendo uma oportunidade de diálogo entre aqueles que produzem conhecimento e aqueles que produzem no campo, melhora ainda mais o processo de produção e os resultados. Marionete é um exemplo”, enfatizou o presidente.

Em toda a feira se viu uma verdadeira vitrine tecnológica com sistemas e métodos avançados de produção agrícola e artesanal feitos de materiais sustentáveis e biodegradáveis. Tudo apresentado pelos próprios agricultores que receberam o apoio da Agerp, Embrapa ou Sebrae para desenvolvê-los. A Embrapa ensinando como usar a tecnologia – onde se consegue abreviar resultados – e o Sebrae, por sua vez, com a capacitação, através do empreendedorismo. “Isso resulta em agricultores mais preparados para o mercado de trabalho, gerando renda e mais qualidade de vida”, analisou o governador.

Agritec’s este ano, estão sendo realizadas em quatro municípios, representando territórios, são eles: São Bento, realizada em agosto deste ano, Açailândia, Caxias e Bacabal. A Feira de Açailândia foi em outubro e a de Caxias agora em novembro. Para encerrar o ano, Bacabal fechará a Agritec 2015 em dezembro, com data ainda indefinida.